O desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo, assim como das demais metrópoles brasileiras, está fortemente associado ao aumento da motorização e à intensificação do processo de adensamento construtivo das áreas mais dotadas de infraestrutura, equipamentos e serviços públicos. Não raramente essa dinâmica vem acompanhada de um processo de transformação urbana que privilegia o automóvel e a exploração imobiliária em detrimento da qualidade de vida das pessoas, da mobilidade ativa, dos espaços públicos, das áreas verdes, da arborização nas vias de circulação e do patrimônio que carrega a história da ocupação da cidade.
Nesse sentido, os bairros jardins, que englobam o Jardim América, Europa, Paulista e Paulistano, presentes na cidade de São Paulo desempenham um papel relevante, não apenas como a memória de uma cidade que se pretendia verde e calma em seus espaços de morar, respeitosa com o território em suas vias orgânicas e sinuosas; mas também como um exemplo de um conjunto de bairros que oferece para a cidade intensas manchas verdes de microclima ameno, em contraposição ao cinza das áreas intensamente edificadas do entorno, onde os automóveis ocupam o lugar das pessoas. A importância histórica e cultural dos loteamentos seculares da Companhia City foi reconhecida e tombada nos Jardins como forma de preservar seu arruamento e seu modo de promover a vivência urbana.
Ao longo do desenvolvimento deste Plano de Bairro foi se concretizando, com intensidade, a percepção de que o benefício urbanístico e ambiental que os Jardins oferece aos seus moradores deveria ser compartilhado de forma propositiva e forte com o restante da cidade, como contrapartida à manutenção de seus atributos e recuperação das áreas onde eles se viram diminuídos. Ou seja, os jardins delicadamente plantados no começo do século XX pelo loteamento deveriam dar um passo em direção ao entorno e à cidade, abrindo-se e organizando-se como um parque. Um bairro voltado à mobilidade ativa, sem comprometimento da circulação de passagem, que receba com segurança pedestres e ciclistas. Um bairro que reconhece seus diferentes territórios, com diretrizes e ações específicas - suas redes de circulação interna com presença de comércio e serviços de pequeno porte; suas áreas de remanso exclusivamente residenciais, e; seu anel externo, de uso mais intensivo no contato direto com o entorno - e oferece formas de qualificar seu uso e ocupação na construção de um bairro parque. Um bairro seguro para caminhar e praticar esportes; usufruir de suas áreas verdes, praças e clubes; conviver e apreciar as árvores seculares ao longo de ruas e praças; aprender com formas sustentáveis de tratamento dos espaços públicos e da drenagem com soluções baseadas na natureza; se beneficiar de passeios associados à história da cidade e das artes por seus diversos museus e galerias; além do tratamento requalificador das vias comerciais que recortam o território, conformando um circuito de consumo verde, amigável e convidativo ao pedestre.
Dessa forma, o Plano de Bairro dos Jardins parte da compreensão das formas de circulação, uso e ocupação do território e da normativa urbanística incidente para a proposição de uma setorização que compartimenta o território de forma a oferecer diretrizes e estratégias específicas para dar vazão a suas potencialidades, requalificar as áreas que viram a diminuição de seus atributos ambientais, além de preservar a qualidade de vida, o patrimônio urbanístico, cultural e ambiental da cidade. Ou seja, foi desenhado como um Plano de Bairro para os Jardins para a conformação de um Bairro Parque para a Cidade de São Paulo.